Resumo Objetivo Este artigo tem como objetivo apresentar uma análise inicial de uma nova forma de ação coletiva relacionada às questões de gênero que surge no mundo empresarial brasileiro. É baseado em uma investigação empírica em duas redes de mulheres executivas que atuam para incentivar a equidade de gênero nas organizações. A investigação foi estruturada a partir da seguinte questão de pesquisa: Qual é o potencial dessas redes relacionadas à equidade de gênero e lideradas por mulheres executivas para degenerificar as organizações? Os resultados ajudam a compreender a complexidade desse fenômeno, com suas ambiguidades e contradições. Originalidade/valor A originalidade do artigo reside na proposição do conceito de redes pós-feministas para a compreensão dessa nova forma de ação coletiva pela equidade de gênero no ambiente corporativo. Esse conceito ajuda os pesquisadores em Estudos Organizacionais a aprofundarem a compreensão desse tipo de feminismo corporativo moderado, que reflete e refrata o feminismo. Design/metodologia/abordagem Pesquisa exploratória de natureza qualitativa, cuja estratégia de investigação foi o estudo de casos múltiplos. A coleta de dados ocorreu em duas etapas: documental e entrevistas com dez executivas que lideram e atuam diretamente na gestão de duas redes, ambas localizadas em São Paulo, e têm o objetivo de aumentar a representatividade de mulheres em cargos de liderança nas empresas. Resultados Os resultados mostram limites importantes dessas redes. Eles estão especialmente relacionados a um distanciamento reivindicado com o feminismo e até mesmo um desdém pelo movimento feminista e também o fato de não considerarem as intersecções entre gênero e outros marcadores sociais de diferença, como raça, classe e sexualidade. Apesar desses limites, essa experiência não pode ser negligenciada, pois representa um avanço importante em relação às estratégias individuais que as mulheres empreendem para ocupar espaços no mundo corporativo, inclusive em relação aos grupos de afinidade criados por mulheres executivas dentro de cada empresa. Esses avanços são ainda mais importantes em um ambiente de negócios, como o brasileiro, em que há poucas mulheres em cargos de alta gestão no mundo corporativo e quase nada tem sido feito por lideranças masculinas para estimular a presença delas nessas posições.
Abstract Purpose This article aims to present an initial analysis of a new form of collective action related to gender issues emerging in the Brazilian corporate world. It is based on an empirical investigation through two networks of women executives that aim to encourage gender equity in organizations. The analysis was structured based on the following research question: What is the potential of these networks related to gender equity led by executive women to degender organizations? The findings help to understand the complexity of this phenomenon, with its ambiguities and contradictions. Originality/value The originality of the article resides in the proposition of the concept of postfeminist networks to understand this new form of collective action for gender equity in the corporate environment. This concept helps researchers in Organizations Studies better understand moderate corporate feminism, reflecting and deflecting feminism. Design/methodology/approach Qualitative research of exploratory nature, whose investigation strategy was a multiple case study. Data collection occurred in two stages: documentary, and interviews. The interviews were with ten executives who lead and act directly in the management of two networks, both located in São Paulo, and aimed at increasing the representation of women in leadership positions in business. Findings The results show crucial limitations of these networks. They are related to a claimed distance from feminism and even a disdain for the feminist movement. They also do not consider the intersections between gender and other social markers of difference, such as race, class, and sexuality. Despite these limitations, this experience cannot be neglected. They represent a significant advance in individual strategies that women undertake to occupy spaces in the corporate world and those concerning affinity groups created by executive women within each company. These advances are even more critical in a business environment. There are typically very few women in upper management positions, and where male leaders have done very little in encouraging their presence in upper management.